De novo entre os pesos pesados! Não como Palhastro, mas Beto Brandão...

Durante minha hospedagem (5 meses) no sistema carcerário paranaense.
Inverno de 2006.


Agradeço a Puta, pelo convite; peço licença ao José Vasconcellos Dias Jr. e a Neide.


Esta poesia é do meu livro, Perdões e Letais Tentativas de Bancar o Herói.


IV

Mas agora eu não sou mais natureza.

Tem uma enxurrada alagando-me.
Levando o meu lixo consigo, trazendo
O lixo dos outros e estragando o meu jardim.

Minha antiga liberdade de voar
Agora é este lodaçal de fatos que eu não encarava
Agora monturados em todo lado
Envolvendo a inutilidade até o que já era inútil
Fodendo com tudo o que era bonito
Devolvendo-me a tudo de mais paupérrimo
A ancestralidade ainda sem capitalismo
Um agrupamento molhado e morrendo de fome
Tremendo de frio e susto
Porque a vida é tão agreste sem uma cama
Um teto, um dinheiro no banco
Ou monitores que me mostrem a mim no mundo
Desabrigado, abraçado ao meu corpo fora de forma
Com cara de quem não quer ser um animal.

Essa enchente que promete restaurar o mundo
À sujeira, fedor, lama, fertilidade, paganismo
Onde teremos de reconstruir tudo
E as sutilezas terão ouro valor
E a carne será o único recurso, moê-la trabalhando tanto
E dormindo muito bem, de cansaço e não drogas ou ervas normais e desconhecidas.

E sabendo que nada, nem o amor, vive sem dinheiro.


* * *


Espero que tenha gostado! Até a próxima!

Comentários

  1. Seja Bem Vindo, a casa é sua
    Da cadeia para o puteiro não mudou nada, né?
    Manda bala meu filho
    Beijos da vagabunda

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