Escritos de Un Viejo Indecente

“o público retira de um escritor, ou de um texto escrito, o que ele precisa e deixa o restante passar, mas o que eles retiram é geralmente o que eles precisam menos e o que eles deixam passar é o que eles mais precisam. Entretanto, isso me permite que eu execute sossegado meus pequenos e sagrados giros, pouco me importando se eles entenderam, do contrário não existiriam mais criadores, todos estaríamos dentro do mesmo vaso de merda. assim como está agora, eu estou no meu vaso de merda, assim como eles estão no deles, e acho que o meu fede menos.
sexo é interessante mas não é totalmente importante. quero dizer, não chega nem mesmo a ser tão importante (fisicamente) quanto a excreção. um homem pode chegar aos 70 anos sem uma buceta mas pode morrer numa semana sem um movimento dos intestinos.”
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“se existe uma batalha, e eu acredito que exista, sempre existiu, e foi isso que produziu Van Gogh e Mahlers bem como Dizzy Gillespies e Charley Parkers, então por favor tenha cuidado com os seus líderes, pois existem muitos nas suas fileiras que prefeririam ser presidente da General Motors do que incendiar o Posto Shell da esquina. mas como eles não podem ter um eles pegam o outro. são esses os ratos humanos que por séculos nos têm mantido onde nos encontramos. isso é Dubcek voltando da Rússia meio-homem, com medo da morte psíquica. um homem deve finalmente aprender que é melhor morrer com suas bolas sendo lentamente cortadas do que viver de qualquer outra maneira. tolice? não é mais tolo que o maior dos milagres. mas se você caiu na armadilha, compreenda sempre o que é isso exatamente que você está negociando, ou o espírito desaparecerá. Casanova costumava correr seus dedos, suas mãos nos vestidos das mulheres enquanto seus maridos eram destroçados nos quintais dos reis; mas Casanova também morreu, apenas um velho com um pau grande e uma língua comprida e praticamente nenhum culhão. dizer que ele viveu bem é verdade; dizer que eu poderia cuspir no seu túmulo sem ressentimento também é verdade. as mulheres geralmente se entregam ao mais imbecil que elas conseguem encontrar; é por isso que a raça humana está na posição que ela se encontra hoje: nós criamos os espertos e duradouros Casanovas, completamente ocos por dentro, como os coelhinhos de Páscoa de chocolate que nós empurramos boca abaixo das nossas pobres crianças.
no refúgio das Artes como nos refúgios dos Revolucionários rastejam os loucos mais piolhentos buscando alívio na coca-cola porque não conseguem nem arranjar emprego como lavador de pratos nem pintar como Cezanne. se o esquema não lhe quer de jeito nenhum, a única coisa a fazer é rezar ou trabalhar por um novo esquema. e quando você descobre que esse esquema não lhe deseja, então por que não outro? todo mundo satisfeito de maneira adequada.”

“sim, o sexo ultrapassou completamente o seu valor. observe às vezes, no seu jornal, um grupo de calouras em roupas de banho posando para uma foto para algum concurso de beleza, para rainha disso ou daquilo, ou coisa parecida. vê aquelas pernas, aquelas curvas, os peitos – alguma magia aqui e ali, deveras, e essas mocinhas sabem disso, mais o preço de barganha fixado. DEPOIS olhe para os oito ou dez rostos sorrindo. os sorrisos não estão sorrindo, eles estão impressos sobre rostos de papel, sobre carbonos da morte. os narizes e bocas e queixos estão adequadamente moldados dentro dos nossos conceitos, mas as caras são tão horrorosas que jazem além de toda a essência da brutalidade. não há ali nenhuma força, nenhuma densidade, nenhuma ternura...nada, nada. insípidas ostentações de pele assassinada, sem olhos.
a gente vê essas mesmas vencedoras de concursos de belezas, anos mais tarde, ficarem velhas, nos supermercados; elas estão nervosas, dementes, amargas, humilhadas – elas aplicaram seus valores numa coisa não-duradoura, elas foram ludibriadas; cuidado com as facas afiadas dos seus carrinhos de supermercado – elas são as loucas do Universo.
portanto, para alguns escritores, incluindo o glorioso e impertinente Bukowsky, sexo é obviamente a tragicomédia. não escrevo sobre ele como instrumento de uma obsessão. escrevo sobre ele como uma peça de teatro engraçada da qual você tem que chorar, um pouco, entre um ato e outro. Giovanni Boccaccio escreveu muito melhor sobre ele. ele tinha a distância e o estilo. eu ainda estou próximo demais do alvo para produzir o efeito de graça total. as pessoas simplesmente pensam que sou sujo. Se você não leu Boccaccio, leia. pode começar com “Decameron”.”

“a única coisa que me impediu de ser assassinado é que sou merda pequena, não tenho política, observo. não tenho partido exceto o partido do espírito humano, que depois de tudo soa realmente bastante raso, como um mascate, mas que significa em sua maior parte o meu espírito, que significa o seu também. pois se eu não estou realmente vivo, como posso estar vendo você?
cara, eu gostaria de ver um bom par de sapatos em cada homem caminhando pelas ruas e ver que ele consegue uma boa trepada de vez em quando e uma barriga cheia de comida também. Cristo, a últimva vez que eu trepei foi em 1966 e desde então eu só tenho ficado na punheta, e simplesmente não existe punheta que se compare ao buraco maravilhoso.”
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Charles Bukowski nasceu em Adernach Alemanha, em 1920 e morreu na Califórnia em 1994. Cresceu, viveu e morreu nos EUA, onde fez sua carreira literária como poeta, contista e novelista. Escreveu cerca de 30 livros e consolidou uma reputação de grande escritor maldito. Alguns leitores, e sobretudo a crítica, captam por vezes somente o aspecto sensacional e “obsceno” de Bukowski, porém, debaixo de suas máscaras, segue denudando-se sua mais desconcertante intimidade – na desolação e no medo, no horror e no pânico e num cinismo autodefensivo, recupera sua humanidade, seu egoísmo, seu senso do ridículo e sua irreverente compaixão.
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Os textos acima foram retirados do livro "Notas de um velho safado", podendo ser encontrado na série L&PM POCKET.
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